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A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA

Publicado: Terça, 26 de Junho de 2018, 13h41 | Última atualização em Sexta, 02 de Junho de 2023, 23h28 | Acessos: 1074
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1. A Revolução Pernambucana (1817)

   Em 1817, um levante no Nordeste reivindicou a Proclamação da República, a liberdade de imprensa e a separação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A chamada Revolução Pernambucana é considerada o berço da democracia. O episódio é pouco conhecido pelos brasileiros, mas muito estudado pelos historiadores, por ser o primeiro levante de caráter republicano da Colônia e o precursor da independência conquistada em 1822.

  As causas da Revolução: naquela época, a capitania de Pernambuco era a região mais rica do Brasil Colônia. As cidades de Recife e Olinda somavam cerca de 40 mil habitantes, considerada uma densidade urbana grande. A atividade comercial era intensa e o porto local escoava a produção de açúcar e algodão.

 Em 1808, a família Real portuguesa se instalou no Rio. A vinda da realeza trouxe maior centralização administrativa e a fiscalização das atividades comerciais desenvolvidas nas Capitanias. Em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido a Portugal.

  Anos antes, por seus próprios meios, Pernambuco já enfrentara a guerra de expulsão contra os holandeses (1654) e a Guerra dos Mascates (1710). Essas experiências fortaleceram a identidade pernambucana e o sentimento de autossuficiência da Capitania. Ela tinha uma relativa autonomia e sentiu o peso da regulação da monarquia em seus negócios.

  Havia ainda uma hostilidade entre brasileiros e portugueses. A população pernambucana manifestava crescente indignação por ser obrigada a pagar uma carga elevada de impostos para sustentar a Família Real e sua corte no Rio.

  Além disso, os postos de trabalho de maior destaque na área pública e militar eram designados por Portugal e os comerciantes portugueses detinham regalias que aumentavam consideravelmente seus lucros. Tudo isso contribuía para a emergência de uma lusofobia nos nativos brasileiros.

  Em Recife e Olinda, a agitação era maior do que no resto do País. Nas lojas maçônicas, membros da sociedade pernambucana tinham contato com ideais iluministas e liberais, que estavam em voga e discutiam movimentos como a Independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução Francesa (1789).

  Aos poucos, aumentou o debate sobre a independência da província e a ideia de se formar uma república. As conversas criticando a Coroa Portuguesa, suas gastanças e seus poderes aconteciam abertamente nas ruas e repartições públicas . Os revolucionários eram chamados de “patriotas” e tinham a simpatia do povo.

  Sem uma universidade na colônia, os conventos se transformaram nos principais centros de formação e educação da época. Padres e religiosos, principalmente da Ordem dos Carmelitas, eram alinhados aos ideais liberais e republicanos. Os padres do Seminário de Olinda tiveram grande destaque e se empenharam em persuadir a população a aderir à revolução. Letrados e com acesso à informação, muitos padres participavam ativamente dos debates políticos. Pelo menos 70 clérigos participaram do levante. Há até casos em que alguns conventos serviram de campo de treinamento militar ou mesmo como local para alojar armas.

  A revolução vinha sendo planejada cuidadosamente, mas explodiu antes da data prevista. No início do mês de março de 1817, havia indícios de que uma revolta estava prestes a acontecer e o governo colocou o Exército em alerta geral. O governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro expediu ordem de prisão para os suspeitos da conspiração, incluindo oficiais militares.

 No dia 6, o militar brasileiro João de Barros Lima (conhecido como “Leão Coroado”) insurgiu-se contra a ordem de prisão de seu superior hierárquico, o Brigadeiro português Manoel Joaquim Barbosa.  Ele matou o Brigadeiro e obteve o apoio de outros militares rebelados. Com o apoio dos rebelados, Leão Coroado tomou o quartel e ergueu trincheiras nas ruas vizinhas para impedir o avanço das tropas monarquistas. O governador refugiou-se no Forte do Brum , mas, cercado, acabou se rendendo.

 O povo foi para as ruas portando armas como bacamartes, pistolas e espadas. Escravos, mestiços e homens negros livres também aderiram à causa.  Com o governo tomado, os rebeldes proclamaram a República. No dia seguinte, organizou-se o governo provisório, tendo como lideranças os maçons Domingos José Martins e Antônio Cruz (o Cabugá) e os padres João Ribeiro e Miguelinho.

 A Revolução Pernambucana durou apenas 75 dias e ameaçou a consolidação do projeto de construção do grande império unitário luso-brasileiro. D. João VI, então Rei do Brasil, Portugal e Algarve, reprimiu com força o movimento, enviando para Pernambuco tropas terrestres e navais. Em poucos dias, oito mil homens cercaram a Capitania de Pernambuco. Sem recursos e com poucas forças armadas, os rebeldes não resistiram à pressão. Com medo, a população começou a abandonar as cidades. Em 19 de maio, as tropas reais entraram em Recife e a encontraram sem defesa. O governo provisório, isolado, se rendeu no dia seguinte.

  Os principais líderes foram presos e executados e o governo provisório revolucionário foi dissolvido.  Leão Coroado foi detido em julho e enforcado quatro dias depois e teve a cabeça cortada e fincada num poste em Olinda.

  Como punição ao Estado, foi tirada de Pernambuco o território de Alagoas e um pedaço que hoje pertence à Bahia.  Em agosto do mesmo ano, o Príncipe Regente D. João expediu Carta Régia que "concede anistia aos revolucionários de 1817 e perdoa alguns presos".

  Apesar do fracasso do levante, a Revolução Pernambucana influenciaria o caminho para a independência do Brasil (1822) e a revolta da Confederação do Equador (1824), liderada por Frei Caneca. A bandeira dos revoltosos foi adotada posteriormente como a bandeira oficial do estado, como símbolo da luta do povo pernambucano.

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