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A GUERRA DA CISPLATINA

Publicado: Terça, 26 de Junho de 2018, 13h41 | Última atualização em Sexta, 02 de Junho de 2023, 23h32 | Acessos: 2166
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1. A Batalha do Passo do Rosário

Em 20 de fevereiro de 1827, teve lugar próximo da atual cidade de Rosário do Sul a maior batalha campal travada no Brasil contra forças terrestres argentinas e orientais (uruguaias). O Exército Argentino-Oriental, comandado pelo General Carlos María de Alvear, ocupava as duas lombadas de oeste, mais próximas do Passo do Rosário; o Exército Brasileiro, dirigido pelo Tenente-General Marquês de Barbacena, que ia em marcha de São Gabriel para o Passo do Rosário, tomou posição na lombada oriental. O vale, entre essas alturas, era cortado em quase toda a sua extensão por um barranco ou sanga, que só dava fácil passagem em alguns pontos, e seguia a direção norte-sul das colinas.

Foi nesse vale e sobre as duas lombadas paralelas que se deu a batalha, assim analisada pelo então Marquês de Caxias:

“Os brasileiros dispunham de 5007 h: (Cavalaria: 2.731h; Infantaria: 2.036h; Artilharia: 240h). Os argentinos e orientais 10.557h: (Cavalaria: 8.379; Infantaria: 1538; Artilharia: 600h). Não participaram da batalha 1.720 brasileiros o que subiria o efetivo brasileiro na batalha para 6.627, caso eles tivessem combatido.

O movimento inimigo retrocedendo do passo do Rosário foi estratégico e poderia ter sido previsto. Mas não o foi, por não ter sido levado em conta que um exército invasor e superior não poderia fugir à perseguição de um inferior, numericamente, e nem abandonar as posições que ocupara, sem haver conquistado o fim a que viera. O campo em que Alvear esperou as tropas brasileiras, que marchavam às cegas e sem possuir informações seguras sobre o inimigo, pode por Alvear, ser escolhido e nele exercitou-se por 2 ou 3 dias, segundo ouvi de oficias argentinos e uruguaios e inclusive do Cel Eugênio Garzón que interroguei. Os brasileiros surpreendidos tiveram de aceitar a batalha no terreno para onde foram atraídos.

 A posição do inimigo de antemão escolhida, forçosamente deveria ser muito favorável do que a deixada para os brasileiros. Mas em abono a verdade, não foi à posição favorável ao inimigo que lhe favoreceu na batalha. Se os brasileiros logo que tiveram conhecimento do inimigo tivessem mudado a frente à direita, mas para cima, teriam anulado esta vantagem de posição, obrigando o inimigo a manobrar para combatê-lo e logo a seguir o impedir de adotar nova linha de batalha. A surpresa impediu a reflexão (estudo da situação). E tudo foi confusão ao se avistar o inimigo onde ele não era esperado.

O terreno ocupado pelo inimigo era mais próprio à Cavalaria do que à Infantaria e dominava o terreno ocupado pelos brasileiros, sendo assim mais favorável a sua Artilharia, superior a nossa, quantitativa e qualitativamente. Havia entre os exércitos uma sanga (riacho) sem água e que era um fosso enxuto que só dava passagem à Cavalaria em poucos lugares. E qualquer dos Exércitos que atravessasse a vista do outro teria dupla desvantagem de desfilar dominado pelas vistas e fogos do outro no ataque e, na retirada em caso de insucesso.

O nosso Exército não levando em contas as vantagens do inimigo, em efetivo e posição, ordenou o ataque. Adotou a Ofensiva quando julgo deveria ter adotado a Defensiva e assim esperado o inimigo na posição que os brasileiros foram obrigados a ocupar. Assim compeliria o inimigo a atacar as tropas brasileiras e por via de conseqüência deixar a posição que vantajosamente ocupava.

As formações dos dois exércitos foram sempre paralelas. As tentativas de flanqueamento (desbordamento) só foram feitas com vantagem pelo inimigo. Pois no inicio da batalha conseguiram tomar-nos as bagagens, as munições de reserva, só escapando as cavalhadas que seus encarregados sem ordens e por iniciativa as conduziram para São Gabriel. As duas divisões de Infantaria brasileiras permaneceram nas posições e só as deixavam mediante ordens.

A batalha durou 11 horas, mais ou menos, e durante este tempo as unidades sustentaram as posições que lhes foram designadas pelo comandante. A retirada foi competentemente ordenada pelo Comandante-em-Chefe e muito bem aconselhada na falta de reservas: a de munições tomadas no início da batalha, a de cavalhadas evacuadas para São Gabriel e a de tropas que haviam sido engajadas na batalha e se encontravam exaustas.

A ausência de 1200 homens da melhor Cavalaria ao comando do Cel Bento Manoel Ribeiro, que fora destacada com fim de observar o inimigo e com ordem de se reunir ao Exército, logo que ouvisse os primeiros tiros, o que não cumpriu, não obstante ter ouvido os estrondos da Artilharia inimiga. E antes, retirou-se para mais longe supondo o nosso Exército perdido.

É opinião geral de todos os oficias práticos da natureza da guerra, que se faz nos campos do sul, era de que os brasileiros não deveriam perseguir o inimigo que se retirava da frente do nosso. Não pelo receio de combater, por ser ele superior em forças, mas por estratagema (ardil).

A distância do Coronel Bento Manoel quando teve início a batalha não passava de 6 léguas castelhanas. As baixas brasileiras foram mais de 200 e as argentinas e orientais em mais de 1000 (foram baixas da Cavalaria contra os quadrados da Divisão do General Crisóstomo Calado).

Fez bem o Marquês de Barbacena em ordenar a Retirada em direção a São Sepé, em razão dos brasileiros estarem faltos de munição logo no início da batalha, a Cavalaria quase inutilizada depois de 11 horas de batalha e no mesmo estado os muares da nossa Artilharia. Seria impossível ao Marquês de Barbacena tentar outra vez a sorte das armas enquanto não pudesse se refazer de munição e cavalhadas”.

             

 

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