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LUTAS INTERNAS NO PERÍODO REGENCIAL

Publicado: Terça, 26 de Junho de 2018, 13h41 | Última atualização em Sexta, 02 de Junho de 2023, 23h13 | Acessos: 2724
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 1. A Revolução Farroupilha (1835-1845)

A Revolução Farroupilha, também conhecida como Guerra dos Farrapos, foi o segundo maior conflito armado do continente americano, começando em 1835 e tendo fim somente em 1845.

Pode-se afirmar que a Revolução teve causas político-econômicas. A corrente política de influência liberal pedia uma maior autonomia das províncias, em contraste à Constituição de caráter unitário promulgada por D. Pedro I em 1824. Alguns liberais eram a favor da separação da província, pois entendiam que apenas desta forma teriam plena autonomia.

Em 20 de setembro de 1835, o governador e alguns membros do Partido Conservador foram presos, e quase toda a província  -  com exceção da cidade do Rio Grande  -  ficou sob o controle dos farroupilhas.

Após a vitória na Batalha de Seival, o General Antônio de Sousa Neto fundou, em 11 de setembro de 1836, junto com outros líderes da Revolução, a República Rio Grandense, estabelecendo a capital na cidade de Piratini -  daí o nome República do Piratini.

Os farroupilhas adotaram uma constituição republicana e emitiram um comunicado conclamando as demais províncias do Império a se unirem como entes federados do sistema republicano. Também foram adotados um hino, uma bandeira e um brasão de armas, símbolos mantidos até hoje no Estado do Rio Grande do Sul.

Entre 1837 e 1840, continuaram as tentativas do Império de vencer os revolucionários. Mas a luta se estendeu até Santa Catarina, com a proclamação da República Juliana, que perdurou de 24 de julho a 15 de novembro de 1839.

Em 1840, começou a decadência da revolução. Enquanto a maioria das forças rio-grandenses se concentrava no sítio a Porto Alegre, a capital, Caçapava, era atacada de surpresa. Os líderes farrapos consideravam Caçapava quase inexpugnável, em virtude do difícil acesso à cidade. A partir daí, os arquivos da República foram colocados em carretas de bois pelas estradas. Foi o tempo da "República andarilha", até que Alegrete foi escolhida como nova capital.

Em Taquari, farroupilhas e imperiais travaram a maior batalha da guerra, com mais de dez mil homens envolvidos. Mas não teve resultados decisivos. São Gabriel foi perdida em junho, e alguns dias depois o General Netto só escapou do imperial Chico Pedro graças à sua destreza como cavaleiro.

Em julho, novo fracasso farroupilha, desta vez em São José do Norte. Bento Gonçalves começou a pensar na pacificação. Em novembro é a vez de Viamão cair, morrendo no combate o italiano Luigi Rossetti, o criador do jornal "O Povo", órgão de imprensa oficial da república. Para piorar a situação, em janeiro de 1841, Bento Manoel discordou de algumas promoções de oficiais e abandonou definitivamente os farrapos.

A partir de novembro 1842, o conflito foi dominado pela estrela de Luís Alves de Lima e Silva, o Barão (depois Duque) de Caxias. Nomeado presidente da província como a esperança do Imperador para a paz, Caxias usou do mesmo estilo dos farrapos para ganhar o apoio da população. Nomeou como comandantes militares Bento Manoel e Chico Pedro, dois oficiais do mesmo estilo, priorizou a cavalaria, e espalhou intrigas entre os farrapos sempre que pôde. Tratou bem a população dos povoados ocupados e empurrou os farroupilhas para o Uruguai.

Estes ainda fizeram outra grande tentativa, atacando São Gabriel em 10 de abril de 1843 e, em  26 do mesmo mês, destroçaram Bento Manoel em Ponche Verde. Mas esta foi a última vitória dos farrapos.

Em dezembro de 42, a Assembléia Constituinte reuniu-se em Alegrete, sob forte discussão política. Era forte a oposição a Bento Gonçalves. Durante 1843 e 1844, sucederam-se brigas entre os farrapos. Numa destas, o líder oposicionista Antônio Paulo da Fontoura foi assassinado. Onofre Pires acusou Bento Gonçalves de ser o mandante. Este respondeu com o desafio a um duelo. Neste duelo (28 de fevereiro de 1844) Onofre foi ferido, vindo a falecer dias depois.

Ainda em 1844, Bento Gonçalves iniciou conversações de paz, mas retirou-se por discordar de Caxias em pontos fundamentais, assumindo o seu lugar Davi Canabarro. Os farrapos queriam assinar um Tratado de Paz, mas os imperiais rejeitavam, porque tratados se assinam entre países, e o Império não considerava a República um Estado. Caxias contornou a situação, agradando os interesses dos farroupilhas sem criar constrangimentos para o Império. 

Mas no final das contas os farrapos já não tinham outra saída senão aceitar as condições de Caxias.

A pacificação foi assinada em 1º de Março de 1845 em Ponche Verde. Terminou assim a Guerra dos Farrapos, que apesar da vitória militar do Império do Brasil contra a República Rio-Grandense, significou a consolidação do Rio Grande como força política dentro do país.

 

2. A Cabanagem (1835 – 1840)

Após a independência do Brasil, a província do Grão-Pará mobilizou-se para expulsar as forças reacionárias que pretendiam manter a região como colônia de Portugal. Nessa luta, que se arrastou por vários anos, destacaram-se as figuras do cônego e jornalista João Batista Gonçalves Campos, dos irmãos Vinagre e do fazendeiro Félix Clemente Malcher.

Terminada a luta pela Independência e instalado o governo provincial, os líderes locais foram marginalizados do poder. A elite fazendeira do Grão-Pará, embora com melhores condições, ressentia-se da falta de participação nas decisões do governo central, dominado pelas províncias do sudeste e do nordeste. Formaram-se diversos mocambos de escravos foragidos e eram frequentes as rebeliões militares.

Em julho de 1831, uma rebelião na guarnição militar de Belém do Pará resultou na prisão de Batista Campos, uma das lideranças implicadas. A indignação do povo cresceu, e em 1833 já se falava em criar uma federação. O presidente da província, Bernardo Lobo de Sousa, desencadeou uma política repressora, na tentativa de conter os inconformados. O clímax foi atingido em 1834, quando Batista Campos publicou uma carta do bispo de Belém do Pará, Romualdo de Sousa Coelho, criticando alguns políticos da província.

Por não ter sido autorizada pelo governo da Província, o cônego foi perseguido, refugiando-se na fazenda de seu amigo Clemente Malcher, reunindo-se aos irmãos Vinagre (Manuel, Francisco Pedro e Antônio), ao seringueiro e ao jornalista Eduardo Angelim, montaram um contingente de rebeldes na fazenda de Malcher.

Antes de serem atacados por tropas governistas, abandonaram a fazenda. Contudo, no dia 3 de novembro, as tropas conseguiram matar Manuel Vinagre e prender Malcher e outros rebeldes. Batista Campos morreu no último dia do ano, ao que tudo indica de uma infecção causada por um acidente.

Na madrugada de 7 de janeiro de 1835, liderados por Antônio Vinagre, os rebeldes (índios tapuios, cabanos e negros) tomaram de assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antonio Clemente Malcher presidente do Grão-Pará. Os cabanos, em menos de um dia, atacaram e conquistaram a cidade de Belém, assassinando o presidente Lobo de Souza e o Comandante das Armas, apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico.

Nesse mesmo dia, Clemente Malcher foi libertado e escolhido como presidente da província e Francisco Pedro Vinagre para Comandante das Armas. O governo cabano não durou muito tempo, pois o novo presidente, Félix Malcher - tenente-coronel, latifundiário e dono de engenhos de açúcar - era mais identificado com os interesses do grupo dominante derrotado, sendo deposto em 19 de fevereiro de 1835, com o apoio das classes dominantes, que pretendiam manter a província unida ao Império do Brasil.

Francisco Vinagre, Eduardo Angelim e os cabanos pretendiam se separar. O rompimento aconteceu quando Malcher mandou prender Angelim. As tropas dos dois lados entraram em conflito, saindo vitoriosas as de Francisco Vinagre. Clemente Malcher, assassinado, teve o seu cadáver arrastado pelas ruas de Belém. Assumiu Francisco Vinagre como o primeiro governador Cabano que participara ativamente da conquista de Belém.

Devido a intervenção do clero e outras mazelas no governo, Francisco Vinagre concordou em entregar pacificamente o governo a Manuel Jorge Rodrigues (julho 1835) em troca de anistia aos revolucionários e outras ações de cidadania. Muitos revolucionários descontentes e não acreditando no cumprimento do acordo, principalmente por lembranças do massacre do Brigue Palhaço em 1823, não entregaram as armas e refugiaram-se no interior. Como previsto, Jorge Rodrigues não cumpriu o acordo e mandou prender Francisco Vinagre. Os cabanos, indignados, reorganizaram suas forças e atacaram novamente Belém sob o comando de Antonio Vinagre e Eduardo Angelim, em 14 de agosto. Após nove dias de batalha, mesmo com a morte de Antônio Vinagre, os cabanos retomaram a capital.

Eduardo Angelim assumiu a presidência e durante dez meses, a elite se viu atemorizada pelo controle cabano sobre a província do Grão-Pará. A falta de um projeto com medidas concretas para a consolidação do governo rebelde, provocaram seu enfraquecimento.

Diante da vitória das forças de Angelim, o império reagiu e nomeou, em março de 1836, o brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andrea como novo presidente do Grão-Pará, autorizando a guerra total contra os cabanos.

Em fevereiro, quatro navios de guerra se aproximavam de Belém, prontos para atacar a cidade, tomada pela desordem, fome e varíola. Foi realizado um bloqueio naval na cidade pelo brigadeiro Soares de Andrea, que atracou sua esquadra em frente a Belém. Os cabanos insurgentes escapavam pelos igarapés em pequenas canoas, enquanto Eduardo Angelim e alguns líderes negociavam a fuga. Uma esquadra inglesa chegou a oferecer ajuda a Eduardo Angelim para que acabasse com o bloqueio naval brasileiro, mas este recusou. Eduardo Angelim conseguiu furar o bloqueio naval e se refugiou no interior. Os cabanos deixaram a capital Belém vazia para as tropas de Soares de Andrea.

O brigadeiro, entretanto, julgando que Angelim, mesmo foragido, seria uma ameaça, determinou que seus homens fossem ao seu encalço. Em outubro de 1836, numa tapera na selva, ao lado de sua mulher, Angelim foi capturado, feito prisioneiro na fortaleza da Barra, até seguir para o Rio de Janeiro e depois Fernando de Noronha. A Cabanagem, porém, não acabou depois da prisão de Eduardo Angelim. Os cabanos, internados na selva, lutaram até 1840, até serem completamente exterminados.

 

3. A Balaiada (1838-1841)  

Constituiu-se como uma das principais revoltas brasileiras ocorridas durante o Período Regencial (1831-1840).  Entre seus motivos estavam presentes questões políticas, sociais e econômicas que afetavam a província do Maranhão na primeira metade do século XIX.

Naquela região especifica, o agravamento da tensão econômica ocorria devido à queda das exportações locais de algodão, seu principal produto, aumentando ainda mais o estado de pobreza generalizado . A grosso modo, a sociedade maranhense de então era dividida em dois polos: uma classe baixa, formada por escravos e sertanejos, e outra alta, na qual se encontravam grandes proprietários e comerciantes.

O evento que daria início a revolta se deu quando o vaqueiro Raimundo Gomes Vieira Jutaí entrou na vila de Manga do Iguará (Maranhão) e soltou os criminosos detidos na cadeia. Começou assim a bárbara guerra civil que devastou até 1841 as províncias do Maranhão, Piauí e Ceará, conhecida por Balaiada, em razão do nome de Manuel Francisco dos Anjos Ferreira “Balaio”, uma das principais lideranças dessa luta.

Muitos outros caudilhos, entre os quais Ruivo, Mulungueta, Pedregulho, Milhomens, Gavião, Macambira e Tempestade, mostraram-se tão ferozes quanto esses dois. Celebrizou-se também nessa guerra, à frente de três mil escravos armados, o preto Cosme, que se assinava “dom Cosme, tutor e imperador das liberdades bem-te-vis”.

Mesmo sem ter sido cuidadosamente preparada e possuir um projeto político definido, os balaios conseguiram tomar a cidade de Caxias, uma das mais importantes do Maranhão, em 1839. Organizaram um governo provisório que adotou algumas medidas de grande repercussão política, como a decretação do fim da Guarda Nacional e a expulsão dos portugueses residentes na cidade.

Nas ruas, a revolta dos balaios caminhou rapidamente para a radicalização, porque juntaram-se ao movimento escravos fugitivos, desordeiros e criminosos. Foram inúmeras as cenas de banditismo, violência e vingança social ocorridas pela cidade e no interior da Província.

Evidenciou-se que, para vencer os revoltosos, seria necessário apoio do governo federal.  Naquele mesmo ano de 1839, seria enviado para a região o Coronel Luís Alves de Lima e Silva, posteriormente elevado à nobreza como Barão de Caxias. 
Este assumiria a função de presidente da província bem como seria responsável por organizar os ataques contra os revoltosos, com farto armamento e uma tropa de 8 mil homens.

Devido a sua elevada capacidade militar, o Coronel Luís Alves conseguiu “pacificar” a região do Maranhão, através de medidas como a adequação das tropas, o pagamento de honorários atrasados aos soldados, o isolamento e o combate sem trégua aos revoltosos que ainda resistiam (cerca de 12 mil sertanejos e escravos morreram nos combates). O movimento de revolta foi contido em 1841. Parte da estratégia do governo também consistiu em anistiar aqueles revoltosos que se entregassem, o que surtiu um poderoso efeito na já combalida resistência balaia, praticamente pondo fim ao levante maranhense.

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