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A CAMPANHA DO MATO GROSSO

Publicado: Terça, 26 de Junho de 2018, 13h41 | Última atualização em Sexta, 02 de Junho de 2023, 23h37 | Acessos: 2097
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 A Campanha do Mato Grosso (1864 – 1868)

     A invasão paraguaia do território brasileiro começou em dezembro de 1864. Enquanto a esquadra de Vicente Barrios subia o rio Paraguai, tomando o forte de Coimbra, e as povoações de Albuquerque e Corumbá, a tropa de Isidoro Resquin cruzava a fronteira, em frente ao forte paraguaio da Bela Vista, ocupando as colônias militares dos rios Miranda e Dourados, a povoação de Nioaque, a vila de Miranda e o núcleo colonial do Taquari, atual Coxim-MS.

 

1. A heróica defesa do Forte de Coimbra (1864)

Na noite de 26 de Dezembro, a frota paraguaia chegou à vista do Forte de Coimbra. Lançou ferros, desembarcando imediatamente parte das forças na margem esquerda do rio para reconhecimento. Ocuparam as posições mais importantes, que serviriam de bases de operações da Divisão Expedicionária e de onde poderiam bombardear, com vantagem, o Forte.

Eram 5 horas da manhã do dia 27 de dezembro. Baixou a cerração, as sentinelas do forte avistaram os vapores paraguaios a uma légua à jusante daquele ponto. À ordem do tenente-coronel Hermenegildo Albuquerque Portocarrero, as posições foram ocupadas. Cerca das oito horas e trinta minutos, Portocarrero recebeu  a intimação de Vicente Bárrios para render-se.

Portocarrero respondeu, por escrito, que, “a não ser por ordem superior, só entregaria o forte pela sorte das armas”. Imediatamente, mandou o Jauru a Corumbá para informar o comandante das armas da província.

 Depois disso, a força paraguaia, desembarcando elementos da infantaria e duas baterias de artilharia, na margem esquerda do rio, avançou, coberta  pelo mato, tomando posição, na fralda do morro da Marinha. Não foram felizes na escolha do local, porque, se estavam fora de alcance das bocas de fogo da Coimbra, suas armas não o atingiam.

 Cerca das 10h30min, o 1º Tenente Balduíno, comandante da canhoneira Anhambaí, num golpe de audácia, desceu o rio e abriu fogo contra o inimigo que se aproximava. Posteriormente, colocou-se de maneira que pudesse auxiliar o forte.

Por volta das 11 horas, a esquadra paraguaia iniciou o bombardeio. Entretanto, o local em que se encontravam as peças, era desfavorável: os tiros se tornaram inócuos. A infantaria aproximava-se para o assalto. O forte aguardava a oportunidade para usar as armas. No momento adequado, rompeu a fuzilaria, e a luta prolongou-se até às 19 horas. Os atacantes, repelidos em suas tentativas de assalto retiraram-se e reembarcaram, deixando mortos e feridos, no campo de batalha.

Terminada a jornada, dos 12.000 cartuchos existentes no forte, restavam 2.500. Nessa noite, 27 para 28, contou Portocarrero com o heroísmo de 70 mulheres, homiziadas naquele local, entre as quais sua esposa Dona Ludovina Alves Portocarrero, que se prontificaram, espontaneamente, a fabricar cartuchos para o dia seguinte, lançando mão de balas esfericas de adarme 17. Com martelos, pedaços de cano e pedras, tornaram o material utilizável ao calibre das carabinas. Dessa forma, produziram mais 6.000 cartuchos. Neste exemplo, vemos desprendimento, coragem e amor à Pátria daquelas abnegadas companheiras de luta. E o espírito tranquilo e pacato da mulher brasileira que, nos momentos difíceis, não vacila e se torna impávido, todo abnegação e heroísmo.

 O moral era elevado. Ironia do destino, perto dali, o porto dos Dourados, com os paióis abarrotados, e Corumbá, onde mais tarde, lançou-se ao rio, cunhetes de cartuchos, para que não caíssem nas mãos do  inimigo.

Reiniciou-se a luta, dia 28, pelo fogo, na parte da manhã; à tarde, tentativas de assalto de infantaria. Oito paraguaios transpuseram o parapeito do forte: sete foram mortos e um prisioneiro. Continuava a manifestar-se a imperícia e a incapacidade dos seus artilheiros, associadas à grande distância em que se encontravam as peças, relativamente à fortificação.

Os assaltos de infantaria dos 6º e 7º batalhões realizaram-se aos gritos desordenados de "renda-se", e imprecações, respondidas pelo brasileiros com outras e "vivas". O inimigo que, em cada carga, chegava ao parapeito, repelido à baioneta, granada, e muitas vezes, tinha as mãos decepadas, ao tentar a escalada. Ressalte-se o valor dos soldados paraguaios, atacando vigorosamente, noção de cumprimento de dever, imbuídos da justiça da luta empreendida, conforme doutrinação de Solano López. Às 19 horas, os paraguaios retiraram-se para perto de seus navios. Nessa ocasião, Portocarrero enviou 02 patrulhas para o entorno do forte, uma dirigida pelo Capitão Conrado e outra pelo Tenente Oliveira Mello, para explorarem o terreno vizinho, recolhendo armas e inimigos feridos, (18 feridos e 86 armas).

Os brasileiros não tiveram uma só baixa.  Portocarrero, à vista da substituição dos atacantes por tropas novas e descansadas, desembarcadas naquela noite e que já se dirigiam para o forte, bem como pela exiguidade de cartuchos de  infantaria, e mais ainda, pela impossibilidade de consegui-los para luta no dia seguinte, aconselhado pelo Tenente Baldoino, Comandante do Amambai, convocou um conselho de oficiais para decidirem o que deveria ser feito: concluiu-se pelo abandono do forte.

A guarnição e demais pessoas deixaram a fortificação às 21 horas, embarcando na canhoneira Amambai em direção a Corumbá. O inimigo nada viu ou pressentiu.

Dia 29 , os paraguaios apossaram-se do reduto.

 

2. O sacrifício de Antônio João Ribeiro e seus comandados no posto militar de Dourados (1864)

Aos 29 dias do mês de dezembro de 1864, uma patrulha de cavalaria do pequeno destacamento de Dourados traz a notícia ao comandante de uma coluna de 365 homens, que subia a serra com destino às cabeceiras do Dourados.

Antônio João, pressentindo o ataque da poderosa coluna em marcha, fez ver à pequena tropa ser impossível tolher o caminho dos invasores, em face da disparidade numérica e do poder de fogo. Tomara, incontinente, deliberações, pondo a seguro as mulheres e as crianças e deixando os seus companheiros – aqueles que quisessem - livres para se refugiarem, pondo-se a salvo.

Liderando um punhado de destemidos, incluindo quatro civis e uma mulher, não se intimidou ante o assédio de um inimigo muito mais numeroso e melhor equipado. Enviou mensageiro com um bilhete para o comandante do Distrito Militar de Miranda e rejeitou, com altivez, a intimação para render-se, não se furtando ao embate desigual.

Dispôs seus comandados nos postos de combate e aguardou o ataque. Tombou sob o peso da fuzilaria de mais de 200 bocas-de-fogo. Faleceu a 29 de dezembro de 1864, defendendo heroicamente a Colônia Militar do Dourados, quando de arma na mão, e a dignidade no coração, de peito aberto e firme, foi ao encontro dos invasores da sua terra natal, com a certeza de que aquela seria sua última caminhada. A Pátria acabara de incorporar mais um bravo à sua galeria de Heróis.

O comandante da força paraguaia, capitão Martin Urbieta, se surpreendeu com o comportamento do bravo Tenente e dissera mais de uma vez que, se o soldado brasileiro fosse da têmpera daqueles bravos da Colônia Militar do Dourados, não seria fácil vencer a guerra. E não venceram.

A mensagem destinada ao comandante do Distrito Militar de Miranda era pequena no tamanho e grande no significado. Ela extravasava o inarredável sentimento do dever de um militar, expresso nas poucas palavras ali colocadas pelo bravo Oficial: "Sei que morro, mas o meu sangue e o de meus companheiros servirão de protesto  solene contra a invasão do solo de minha Pátria".

 

3. A Expulsão dos Inimigos do Sul de Mato Grosso e a Retirada da Laguna (1865-1867)

Como retaliação, o Império planejou o envio de duas colunas, com o objetivo de atacar Assunção simultaneamente.  Enquanto uma subiria o rio Paraguai, abrindo passagem pelo Passo da Pátria e investindo sobre Humaitá, a outra atravessaria as regiões quase desertas dos sertões de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, retomando a área usurpada e atacando, pelo norte, a cidade paraguaia de Concepcion.

Em abril de 1865, tropas paulistas, cariocas e paranaenses se reuniram em São Paulo para formar o embrião da Força Expedicionária de Mato Grosso, que teve como missão inicial, marchar até a cidade de Uberaba. Ao atingir esta localidade, em 18 de julho, seu efetivo foi reforçado com a incorporação de uma brigada, composta por tropas mineiras e do Amazonas.

Após 45 dias de treinamentos e manutenção, todo o contingente prosseguiu para a distante confluência dos rios Taquari e Coxim, onde chegaram à província invadida em 17 de dezembro. Lá receberam reforços de tropas de Goiás. O destino era o distrito de Miranda.

A Coluna se pôs na estrada em 25 de abril 1866, chegando a Miranda somente em 17 de setembro. Isso porque a tropa ficou ilhada nos pauis do rio Negro, de 8 de maio a 24 de junho, enfrentando a fome e as terríveis moléstias paludosas, que ceifaram centenas de vidas humanas, inclusive a do comandante. Toda a cavalhada também sucumbiu.

Em janeiro de 1867, o Coronel Carlos de Morais Camisão assumiu o comando da coluna expedicionária, nessa altura já reduzida a 1.680 homens, e decidiu invadir o território paraguaio, penetrando até Laguna. Longe do apoio logístico do escalão superior, sem víveres para o sustento da tropa, afetada pela cólera, o tifo, e pelo beribéri, a coluna de Camisão foi forçada a manobrar em Retirada, sob os constantes ataques da cavalaria paraguaia, que lhe infligiu severas perdas.

Do efetivo inicial de cerca de 3.000 homens, retornaram às linhas brasileiras, em junho de 1867, apenas 700 homens, alquebrados pela doença e pela fome.

 4. A Retomada de Corumbá (1867)

A Retomada de Corumbá pelo Exército Imperial marcou a expulsão das tropas paraguaias que ocupavam a região Sul da então província de Mato Grosso, desde janeiro de 1865.  

Em 1867, o presidente da província de Mato Grosso, Couto Magalhães, decidiu pela retomada do território para o Império Brasileiro e iniciou os preparativos militares elaborando a estratégia das operações, que ficou sob o comando do então Tenente Coronel Antônio Maria Coelho, com um plano original de atacar a Vila de Corumbá, não pelo lado Norte, para o qual estava atento o inimigo, mas pelo Sul, aproveitando a cheia, particularmente favorável naquele ano.

No dia 15 de maio de 1867, teve início a ação militar, com a partida do Porto de Cuiabá do 1° Corpo, após ouvir entusiástica exortação do Doutor Couto de Magalhães, presidente da província. Compunham-no 400 homens, embarcados em igarités, comboiados pelos vapores Antônio João, Corumbá, Jarú, Cuiabazinho e Alfa.

No porto do Alegre, baixo São Lourenço, margem esquerda, internaram-se nas embarcações a remo pelo pantanal, ingurgitado pela enchente, regressando a Cuiabá os vapores.

Navegando por águas rasas, vieram as embarcações sair no Barrote, abaixo de Ladário, a 12 de junho, protegidos pela escuridão da noite, acampando nas proximidades de Corumbá.

Já na madrugada do dia 13, a tropa toma rumo norte caminhando pelas margens do rio Paraguai. Depois de 25 quilômetros de marcha, param os soldados já perto da vila de Corumbá, para observação e plano tático de seus comandantes. Às 14 horas, começam os ataques em pontos distintos, que duraram até às 18 horas.

A guarnição paraguaia era de duzentos homens, mais ou menos. Com a exceção de 27 que ficaram prisioneiros e poucos que fugiram para a Bolívia em companhia do secretário chamado Rivarola, todos os demais ficaram mortos.

As tropas brasileiras perderam nove homens, dentre os quais, o tenente Manoel de Pinho e o capitão Cunha e Cruz. Outros 27 ficaram feridos.

Corumbá foi ocupada, desde o dia 13 até o dia 24, data em que o Doutor Couto de Magalhães chegou com 2º Corpo. Agora,  sob seu comando deu ordens para a retirada, visto reinar a varíola, e não convir mais demorar, porque a maior parte da força não era vacinada, e correr riscos de, estando todos doentes, virem de novo os paraguaios para contra-atacar.

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