A CAMPANHA MILITAR DO ACRE
Os limites entre Brasil e Bolívia no Acre eram discutidos. As diplomacias dos dois países esforçavam-se por defini-los. A seca de 1877, no Nordeste, atraiu para o Acre milhares de nordestinos que terminaram por desbravar e povoar aquela região selvagem, ao custo de 100.000 vidas imoladas por uma ecologia adversa, paraíso de febres palustres.
O Brasil reconheceu o domínio boliviano sobre parte da área desbravada e povoada pelos nordestinos, que já se consideravam acreanos. Eles argumentavam: “Se o Brasil não quer o Acre, os acreanos não desejam ser bolivianos”.
Jovens de Belém, inconformados, organizaram uma força para libertar o Acre. Esta força passou à história como Expedição dos Poetas. Após alguns êxitos, fracassou, por falta de um líder militar. Plácido de Castro, que se encontrava na Amazônia desde 1898 e se dedicava, como agrimensor, a demarcar seringais, recusou comandá-la, obediente à decisão do governo brasileiro.
O governo boliviano, visando a lucros e a manter seu domínio sobre o Acre, recorreu a capitais privados norte-americanos e ingleses, sedentos de dominarem as fontes de produção de borracha na Amazônia. Formou-se o Bolivian Syndicate de Nova York. Este adquiriu o direito, por arrendamento, de administrar o Acre e ali manter uma força armada. O arrendamento incluiu área reconhecidamente brasileira.
Ao tomar conhecimento do teor do contrato, lesivo ao Acre e ao Brasil, Plácido decidiu impedir que se consumasse. Daí por diante foi o catalisador, organizador e pregador da Revolução, com vistas a impedir a invasão e o domínio da área por capitais alienígenas, interessados em controlar fontes de produção de borracha, com apoio de força armada.
E partiu para a luta! Em 6 de agosto de 1902, conquistou Xapuri e proclamou a Independência do Acre. Fez com que todos os presentes assinassem a Ata de Independência, a fim de comprometerem-se no movimento. Durante mais de um mês percorreu a pé, a cavalo e em canoas, todos os recantos do Acre, no afã de mobilizar adeptos para a reação militar que, dentro em breve, se faria sentir.
Em pouco tempo Plácido mobilizou o Exército do Estado Independente do Acre, com efetivo de 850 homens, divididos em 4 batalhões: O Novo Destino, o Pelotas, o Acreano e o Xapuri. Seus soldados estavam armados com rifles Winchester .44 e armas de caça, com 60 tiros por homem.
Em 2 de outubro de 1902, foi aclamado general e comandante do Exército do Acre. E em 171 dias de campanha, de 5 de agosto de 1902 a 24 janeiro de 1903, o pequeno Exército Acreano, liderado pelo bravo gaúcho, consolidou a Independência do Acre, após vencer em diversos combates fortes e bem armados efetivos adversários. Conseguiu assim, afastar da Amazônia a grande ameaça à Soberania, Integridade de Unidade do Brasil, representada pelo Bolivian Syndicate de Nova York. O Sindicato, face ao fracasso militar, tentou subornar a população acreana, no que foi repelido. Financiou então, na Bolívia, uma poderosa expedição para esmagar os acreanos. O Brasil tomou posição para evitar o massacre.
A diplomacia brasileira, através do Barão do Rio Branco, consolidou o ideal do Acre de ser brasileiro, conquistado pelas armas pelo Coronel Plácido de Castro e seus bravos soldados acreanos, com a celebração do Tratado de Petrópolis, a 17 de novembro de 1903. Pelo Tratado, o Brasil definiu a situação do atual Estado do Acre, em troca de compensações territoriais (3.164 km2), em dinheiro (10.000.000 de dólares) e em obras civis de grande projeção econômica para a Bolívia, como a ferrovia Madeira-Mamoré, a liberação da livre navegação do rio Amazonas, a utilização dos portos de Manaus e Belém e, ainda, reembolso dos valores adiantados à Bolívia pelo Bolivian Syndicate.